Cerveja na Bélgica: gueuze, faro, saison, grisette, oude gueuze…
Mal desembarcamos na estação de trem de Bruxelas, passamos num Carrefour para comermos algo, mas acabamos diante de uma geladeira onde havia uma latinha de Kriek Lambic a 2 Euros. A viagem não podia começar melhor. Aproveitamos esse dia para rodarmos a parte mais turística da cidade e bebermos cervejas em alguns bares próximo ao hotel. Na Rue Des Brasseurs sentamos no bar Au Brasseur e experimentamos duas cervejas que já conhecíamos, mas nunca havíamos bebido frescas:
Saison Lindemans: dourada, limpa, espuma efervescente, aroma frutado lembrando abacaxi e maçã vermelha. Corpo leve, bem sequinha, levemente frutada e com amargor muito equilibrado. Cerveja deliciosa!
Gouden Carolus Classic: minha dark strong ale preferida, então a expectativa era bem alta, e ela não decepcionou. Marrom, límpida, creme bege consistente. Aroma de frutas escuras secas, melado de cana, leve tostado. Corpo médio, sabor de caramelo e leve frutado, álcool perceptível mas muito bem inserido. Dava pra ficar só nela, mas havia muita coisa para fazer ainda, e o tempo era curto.
Há apenas 1 quarteirão do hotel encontramos a Moeder Lambic, uma casa especializada nesse tipo especial de fermentado, sobre o qual falaremos mais no post sobre a Cantillon. A casa é simpática e lembra um café. O dia estava ensolarado, então ficamos na parte externa do bar. Não havia tanta opção de lambic, mas valeu para termos uma ideia do que encontraríamos por lá.
Lambic Cantillon (1 ano de fermentação): dourada, turva, servida em temperatura ambiente sem carbonatação. Possui aromas selvagens característicos e um frutado bem peculiar (pêssego, abacaxi, marmelada). Acidez pungente e seca como um vinho. Bastante complexa e diferente de tudo que já havia experimentado.
Cantillon com framboesa: rosada, com baixa formação e retenção de espuma. Aroma selvagem em primeiro plano, seguido de framboesa. Na boca, a acidez se destaca, seguida de leve dulçor e da fruta. Comparando com a kriek que compramos no mercado, parece que na latinha o percentual de framboesa é significativamente maior para deixar a cerveja mais bebível.
Gueuze Tilquin: assim como vem acontecendo com o queijo minas artesanal, que tem produtores e afinadores, há em Bruxelas profissionais especializados em blendagem de cerveja lambic, como o Tilquin. A Gueuze que experimentamos é uma mistura de 4 produtores: Liefmans, Girardin, Lindemans e Boon. Cerveja dourada, limpa, boa formação e retenção de espuma. Aromas complexos, uma mistura de frutas e de fermentação selvagem, chegando a lembrar um espumante. Na boca, mais frutada e menos ácida que as outras que experimentamos, conferindo maior suavidade à bebida. Fantástica!
Grisette St. Feuillien com frutas vermelhas do bosque: rosada, limpa, boa formação e retenção de espuma. Cereja e framboesa bastante perceptível tanto no aroma quanto no sabor, mas sem deixar a cerveja enjoativa. Muito refrescante.
Para fechar o tour pelo centro, fomos a um dos cafés mais antigos e importantes da cidade, o A La Mort-Subite, fundado em 1686. Lá, além de algumas cervejas belga, eles servem as lambic da casa. A Faro, servida apenas em chope, leva adição de açúcar sintético para equilibrar a acidez da fermentação selvagem. Já a Gueuze é servida apenas em garrafa, demora 3 anos para ficar pronta e é considerada uma das melhores do mundo. Provamos as duas:
Faro: dourado intenso, levemente turva, baixa carbonatação, aromas e sabores selvagens e frutados, lembrando frutas amarelas bem maduras. O açúcar artificial ajuda a balancear a acidez e deixa a cerveja bem mais fácil de beber.
Oude Gueuze Lambic: dourado intenso, cristalina e brilhante, espuma efervescente, lembrando espumante. Acidez bastante evidente, um pouco salgada e picante. Aromas e sabores complexos: frutada, selvagem, floral e amadeirada. Cerveja incrível, impressiona a cada gole e merece a fama de uma das melhores do mundo.
No caminho ainda passamos pela Vila Delirium, mas preferimos deixar para outro dia. Na mochila, uma garrafinha de Oude Gueuze para beber no hotel e descansar para o dia seguinte.
Deu vontade de fazer as malas e pegar o primeiro voo pra Bélgica! 🙂 Sensacional, Rafael!